As Cantigas de Amigo constituem a variedade mais importante e original da nossa produção lírica da Idade Média, estas composições que se enquadram na poesia trovadoresca, mas que incluem a particularidade de conferirem estatuto de enunciação à mulher, embora sejam sujeitos masculinos a compô-las. As cantigas de amigo, originárias da Península Ibérica, abordam o universo da cultura popular rural. “Amigo” significa, no contexto das cantigas, “amante” ou “namorado”. Quem fala é uma mulher do povo, que lamenta a ausência de seu amado. Quanto à forma, elas apresentam uma riqueza superior às cantigas de amor. Vejamos um exemplo. Ai flores, ai, flores do verde pino, se sabedes novas do meu amigo? ai, Deus, e u é? Ai flores, ai flores do verde ramo, se sabedes novas do meu amado? ai, Deus, e u é? Se sabedes novas do meu amigo, aquel que mentiu do que pos comigo? ai, Deus, e u é? Se sabedes novas do meu amado, aquel que mentiu do que mi a jurado? ai, Deus, e u é? Vós me perguntades polo voss’am...